Dono de casa de câmbio em Copacabana vira réu na Justiça Federal por lavagem de dinheiro de traficantes do Comando Vermelho
Dono de casa de câmbio em Copacabana vira réu na Justiça Federal por lavagem de dinheiro de traficantes do Comando Vermelho
A Justiça Federal no Rio tornou réu o dono de uma casa de câmbio em Copacabana, na zona sul do Rio, que seria usada para lavar dinheiro do traficante Fhilip da Silva Gregório, o Professor, que foi um dos principais chefes do Comando Vermelho e morreu em junho deste ano.
Bruno Curzio da Silva Albanese é dono da Bella Copa Câmbio e Turismo, em Copacabana, desde 2021. Antes dele, o pai de Bruno - Luiz Carlos Rufino Albanese - já foi sócio da mesma casa de câmbio. Os dois foram denunciados pelo Ministério Público Federal.
Nas redes sociais, a empresa oferece troca de moeda, passagens aéreas, cruzeiros e passeios turísticos. E se apresenta aos clientes como uma empresa séria e com experiência.
Só que, segundo o Ministério Público Federal, na casa de câmbio funcionava um esquema para lavar o dinheiro do tráfico internacional de drogas e armas.
Uma das conexões apontadas na denúncia é entre Bruno Albanese e o traficante Fhilip da Silva Gregório, o Professor. Velho conhecido da polícia, Professor morreu em junho deste ano com um tiro na cabeça. A circunstância da morte dele é investigada. A principal hipótese é que ele tenha cometido suicídio.
De acordo com a Polícia Federal, Professor ocupou o posto de "dono" da Favela da Fazendinha, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, e negociou por anos a compra de fuzis, pistolas e munição direto com fornecedores do Paraguai.
A denúncia do Ministério Público Federal afirma que, em agosto de 2021, Bruno Albanese recebeu, através da Bella Copa Tour, R$ 700 mil de Professor. O dinheiro era destinado ao pagamento de um traficante identificado apenas como Hugo, fornecedor internacional da cocaína vendida pelo Comando Vermelho - facção da qual Professor fazia parte.
Em depoimento à Polícia Federal, Bruno foi perguntado e conhecia algum Hugo, com telefone do Paraguai. "Não conheço. Nenhum contato, nenhum conhecimento, nunca vi, falei… zero", respondeu Bruno.
Mas, para o MP, conversas em um aplicativo de mensagens obtidas pela Polícia Federal comprovam que Hugo conhecia a Bella Copa e que a casa de câmbio foi usada pelo traficante para receber o pagamento por uma carga de cocaína comprada por Professor.
Em uma conversa, Professor diz a Hugo: "Vou passar amanhã cedo, acho que uns 700 mil mesmo".
Hugo, então, envia uma foto com endereço e telefone da casa de câmbio escolhida: a Bella Copa. E diz para Professor: "Doutor, passa pra esse".
Professor pergunta: "Leva nesse?".
E Hugo confirma: "Sim, dr. Porfa" [por favor].
Dias depois da entrega do dinheiro na casa de câmbio, Hugo envia a Professor uma prestação de contas escrita à mão. Na anotação, constam os R$ 700 mil depositados por Professor, dando a dívida como quitada.
Para aumentar a segurança, as transações entre os traficantes na casa de câmbio dependiam de uma autenticação, uma espécie de token. A foto de uma nota de R$ 2 era usada para validar a operação. Funcionava como uma senha.
Ao ser ouvido pela Polícia Federal, Bruno negou as acusações.
Delegado: "Houve entrega de R$ 700 mil à Bella Copa em 11/08/2021?".
Bruno: "A gente teve acesso a isso no inquérito. Mas, veementemente, eu não conheço. Por Deus do céu. Eu não conheço nenhum Professor, nenhum Hugo e muito menos recebi 700 mil na minha loja. Só fui ouvir falar em Fhllip porque eu tô com esse problema e pesquisei na internet. Nunca tive com ele, nunca fui no complexo do Alemão... moro na Barra".
A denúncia do Ministério Público Federal também aponta que Bruno Albanese, dono da Bella Copa, usou outra empresa para beneficiar o traficante Professor.
Por meio da Zeropiu Importação, Exportação e Comércio, Bruno transferiu R$ 52 mil para a RAS Serviços e Cobranças em outubro de 2022.
A RAS, segundo o MPF, era usada por Professor para receber pagamentos pela venda de cocaína e de fuzis para outros traficantes. De acordo com a investigação, Professor mantinha conexões internacionais e adquiria cocaína e armamentos no Paraguai para revender a outros membros do Comando Vermelho no Estado do Rio.
Agora, Bruno Albanese e o pai, Luiz Carlos Albanese, respondem na Justiça pelo crime de lavagem de dinheiro. Luiz Carlos, que já foi sócio da Bella Copa e da Zero Piu, também foi acusado de ocultar bens de outro traficante. Os dois estão proibidos de deixarem o país e de realizarem operações de câmbio e de administrarem qualquer instituição operadora.
O que diz a defesa
Em nota, a defesa de Bruno e Luiz Carlos Albanese declarou que "todas as operações financeiras foram declaradas no Imposto de Renda com o devido recolhimento dos tributos". Disse ainda que "a criminalização das operações realizadas através de criptomoedas no presente caso constitui equívoco que será sanado no curso da instrução criminal".FONTE: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/09/22/dono-de-casa-de-cambio-em-copacabana-vira-reu-na-justica-federal-por-lavagem-de-dinheiro-de-traficantes-do-comando-vermelho.ghtml